terça-feira, 26 de abril de 2011

O vento

 O único da casa  que enxerga o vento é o cachorro.
 Detém-se à porta da cozinha, rosnando para o pátio ventando, cheio de latas inquietas e papéis decididamente malucos.
 E nos seus olhos fixos e rancorosos vê-se o desvario do vento, a incurabilidade do vento, os seus cabelos em corruio, os seus braços que parecem mil, os seus trapos flutuantes de espantalho, toda aquela agitação sem causa e que é ainda menos instável, no entretanto, que a terrível desordem da sua cabeça: pois o vento nunca pode assentar as idéias.    (Mário Quintana.Prosa & Verso)

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